terça-feira, novembro 08, 2005

a porta

há muitos anos, a noite era de vigília silenciosa cansada ao teu quarto.
os fantasmas cirandavam e eu não queria que te perturbassem os sonhos de menina.
ficava de olhos abertos na escuridão até a escuridão me abraçar por desgaste. acredita, não aguentava mais do que o tempo que os olhos se mantinham alerta.
mas tinha a sensação de que nada te tocava. que te guardava.
hoje as portas do teu quarto ficam fechadas. não sei se para evitar os pesadelos ou se para os deixar só aí dentro.
se para ouvires melhor o espanta-espíritos da maçaneta, ou se para não ouvires nada. tremo.
e penso, enquanto te puxo o edredon para perto das orelhas, e miro essa cascata dourada na almofada, que voltaram os dias de vigília.
um peso aperta-me o peito. de novo.
desta vez não posso falhar.

segunda-feira, novembro 07, 2005

... do escuro...

às vezes ainda tenho medo do escuro. quando as noites são demasiado curtas para o descanso, longas demais para o cansaço.
quando a mão não sente mais que o lençol frio, e no calor do corpo se agigantam transparências frias de ausência.
nesse não saber do lado de lá.
quando não sei de mim. e não sei onde me procurar.
reinvento no escuro as luzes das estrelas que me sossegam. mas estrelas inventadas pouco brilham na força débil do corpo salgado, arrefecido.
e o desejo pode apenas jazer na almofada, vazio. de olhos esbugalhados molhados doridos.
esperando que o dia acorde e o peso do peito aqueça com a luz do sol.
que virá. apesar de tudo, tem de vir.