quarta-feira, agosto 31, 2005

falar...

... exorciza...
... precisar de mãos estendidas e de luzes de presença. precisar de sentir algo à volta, como uma brisa fina que faz sentir que existe exterior. que existo por oposição ao não sentir.
sensorial. uma palavra deitada no ouvido eleva a pele em arrepio. tece teias doces à volta do peito.
às vezes falar ajuda a largar o mapa e o norte de mim. para que não me reconheça.
às vezes falar despeja-me no chão como uma poça de água límpida e fresca. depois evaporo.

segunda-feira, agosto 29, 2005

reticências(...)

de caminhos. de opções e dúvidas. de olhares, de vidas, de entretantos.
porque nada é certo, não há verdade absoluta que nos entregue ao ser.
porque a cada bifurcação surge o entendimento, mas não a resolução.
são as reticências esse pedaço de certeza suspensa, a pergunta, o cheiro que não se reconhece. são o mistério e o meio sorriso. e o meio choro.
são a tal luz de presença.

terça-feira, agosto 23, 2005

pequenas coisas

dizia uma senhora de voz límpida numa canção foleira que gosto de dançar noite dentro no meio da rua: "assim são as coisas: quanto mais pequenas, mais ternas, mais suaves, mais maravilhosas".
assim são as coisas pequeninas, ínfimas, que despoletam um sorriso no meio dos dias tristes e inúteis. não passo um dia sem sorrir, várias vezes ao dia.
já me perguntaram, surpreendidíssimos, se a vida me dava assim tantas razões para isso.
a minha resposta é uma pergunta: e há assim tantas razões para negar um sorriso? a um empregado simpático, a uma criança de olhar de chucha, a um dia brilhante, a um cão bem-disposto, a uma situação caricata, a um turista a pedir informações, ao sabor de um gelado, ao andar pesado da empregada da limpeza do escritório?
porque eu gosto, ao fim do dia, que me recebam com um sorriso, mesmo que cansado. se for franco, é a melhor coisa do mundo.
é por achar que o mundo não nos compreende que por vezes perdemos as oportunidades de nos darmos a conhecer. ou apenas de disfrutar um centésimo de segundo mais simpático.
eu preciso disso. preciso de me acarinhar.

segunda-feira, agosto 22, 2005

luz de presença...

permanece ao longe. entre corredores e portas onde os monstros se alojaram. mas é nessa luzinha fraca, alaranjada, que reside a esperança dos dias.
que renasce da dormência a mente estagnada.
é nessa luz que prendo os olhos todas as noites antes de adormecer, a cujo brilho frágil dedico as minhas preces, pois é ela que me vela os sonhos e pensares. nela me envolvo de laranja quente, nela abrando a respiração.
porque me lambe as feridas devagarinho, dando-lhes ar para cicatrizar.
é nesse brilho sossegado de olhos meigos que a paz retorna aos poucos.
nela fico suspensa no ar, rezando que a próxima queda não venha, e se vier, venha mais branda.
porque é preciso tempo para recuperar. tempo descansado, sonos profundos e dias azuis.

começa sempre assim...

... uma mão estendida, à procura.

os lençóis revoltos, frios, mesmo ao lado do corpo alagado em suor.

andar pelas ruas em sorrisos e, de repente, a queda. cair, cair, sem parar, sem perceber. sem perceber o corpo, a sua fraqueza súbita. sem perceber que peso é aquele no peito, que dormência aplaca as mãos.

sem motivo aparente, porque os motivos são tantos, pequeninos, acumular de dores esquecidas, relativizadas. pela cabeça, não pelo coração.

estender a mão.
alguém que me abrace, estou a cair.

se surgir o abraço, a união é eterna...